Há 7 anos, o Brasil se despedia de um homem, de um bispo, de um
santo. No dia 27 de agosto de 2007 partia e deixava-nos dom Luciano:
“Luz e Dom de Deus”. A luz e o dom presente em dom Luciano não passavam
despercebidos, tocavam a alma e o coração de cada um que o encontrava
por mais ligeiros e sutis tais encontros: era o doce olhar, o meigo
toque, a singeleza da postura e o desarmamento de suas palavras.
Esta presença reconfortadora encontramos também no papa Francisco. Em
muito eles se assemelham; não simplesmente por serem jesuítas. Na
ocasião de sua eleição para a cátedra de Pedro, o cardeal Bergólio,
agora papa Francisco, escutou ao pé do ouvido as palavras do cardeal
Cláudio Hummes: “Não esqueça dos pobres!” Intuitivamente, veio à minha
mente a narração do fato de que dom Luciano antes de morrer disse ao seu
irmão Luiz Mendes de Almeida: “Não esqueça dos meus pobres!”
Os escolhidos de dom Luciano foram os mesmos que Jesus escolheu, os
pobres. Eles encontraram no coração do bispo marianense receptividade,
mais do que isso, encontraram um coração disposto que escolheu a
simplicidade, a generosidade e a proximidade como o cartão visita. Além
do mais, a dom Luciano era essencial servir à comunidade, sobretudo os
mais necessitados, os que estão à margem da sociedade e de nossa
atenção. Para ele amar não é uma simples doutrina, é um estilo e uma
prática de vida. De fato, “a Luz e o Dom do Brasil” soube levar ao
cumprimento a Lei do Senhor, crendo, ensinando e praticado o que
professava e ensinava.
Eis o grande legado de dom Luciano: seu amor aos humildes e pequenos
por meio de sua atitude serviçal. Para quem fez da frase: “Em que posso
ajudar?” seu lema de vida, não é de se espantar que não medisse esforços
para viver radicalmente o seguimento a Cristo. Essa escolha fundamental
por Cristo se expressa bem no documento de Santo Domingo, em especial
na oração que levou em seu bojo os dedos e as mãos do arcebispo.
Expressa-se na seguinte forma: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo,
Bom Pastor e irmão nosso, nossa única opção é por Ti.” A radicalidade
de sua vida encontra em Jesus Cristo seu fundamento, seu amor radical
pelo outro encontra sua fonte em Jesus Cristo, sua caridade fraterna
encontra em Jesus Cristo o exemplo!
Dom Luciano soube como ninguém encarnar o Evangelho. Aliás, os santos
se diferenciam exatamente por serem o Evangelho vivo, capazes de nos
interpelarem na prática da nossa vida e do nosso seguimento a Jesus
Cristo. Os santos irradiam sobre a terra um teor de vida mais humana,
graças a eles a humanidade se torna mais humana. Eles são capazes de
alimentar o mundo com frutos espirituais e infundir o espírito do
Evangelho.
No dia 27 de agosto, a Arquidiocese de Mariana, na qual dom Luciano
foi seu 4º arcebispo, presta sua homenagem por meio da Comenda dom
Luciano Mendes de Almeida do Mérito Educacional e Responsabilidade
Social. Neste dia, na catedral metropolitana haverá celebração
eucarística às 18h30. Logo após, haverá a outorga da comenda aos
homenageados: mons. Lázaro de Assis Pinto, mons. Pedro Terra Filho,
padre Marcelo Moreira Santiago, padre Márcio Antônio de Paiva, prof. dr.
Emilién Vilas Boas Reis e Arsenal da Esperança dom Luciano Mendes de
Almeida.
Esta homenagem prestada ao nosso “Dom e Luz” vai para além da
recordação saudosa do homem e do legado do arcebispo. É o tempo da graça
de Deus, o kairós, para reavivar em nós, por meio do seu testemunho
profundo e radical com o bem do próximo, o comprometimento; não
opcional, mas inerente à vida cristã, o cuidado com o próximo. Resta-nos
o questionamento à luz da Palavra de Deus: “de quem me faço próximo?”
Do pobre, do excluído, do marginalizado, do violentado, do malvisto?
Por Geraldo Trindade
bacharel em filosofia, cursa teologia no Seminário Arquidiocesano de Mariana e mantém o blog: http://pensarparalelo.blogspot.com
Contato: pensarparalelo@gmail.com